Muitos são os mitos e tabus sobre a maternidade. Mas, quando focamos na amamentação, é possível perceber que essa fase da vida das mães tem sua própria parcela de inverdades. E o pior: esse mitos podem influenciar neste ato, que é tão essencial para os bebês.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o aleitamento materno é recomendado como forma exclusiva de alimentação dos recém-nascidos até os seis meses de vida. O órgão indica ainda que, mesmo após a inclusão dos primeiros alimentos sólidos na dieta dos pequenos, o leite materno seja dado até os dois anos de idade. Contudo, crenças falsas podem interferir nessa decisão.
Para escancarar os mitos que rodeiam a amamentação, o Estadão Recomenda destacou alguns deles, que são apontados no artigo científico “Amamentação: crenças e mitos”, publicado na Revista Eletrônica de Enfermagem.
Além disso, também conversamos com a jornalista Rita Lisauskas, autora do livro “Mãe sem Manual” e apresentadora de um podcast de mesmo nome na rádio Eldorado, que enfrentou desafios semelhantes durante e após sua gestação. Confira a seguir.
Quais são os mitos sobre amamentação?
O artigo científico “Amamentação: crenças e mitos” é fruto do trabalho conduzido por Ana Vaucher e Solânia Durman, a partir do estudo de um caso clínico de uma mãe lactante.
Nele, as pesquisadoras apresentam que “há uma série de mitos, tabus e crenças relacionados com a amamentação, muitas vezes trazendo transtorno quando nos referimos à importância da lactação aos recém-nascidos”. O artigo também reforça que tais crenças podem influenciar comportamentos ou mesmo respostas emocionais.
Mas quais são esses mitos? Segundo constatado por Vaucher e Durman, alguns deles são:
- a crença de que algumas mulheres têm leite fraco;
- a crença de que se tem pouco leite sem investigar a causa;
- o mito de que amamentar faz os seios caírem.
Desafios da maternidade
Rita Lisauskas se deparou esses mitos. A jornalista teve que lidar com especulações de que não teria leite suficiente devido ao tamanho dos seios. “Você ouve falar ‘ah, seu peito é pequeno, você vai ter pouco leite’. A pessoa tira isso sabe-se lá de onde porque não tem nada a ver uma coisa com a outra”, diz.
Comentários dessa natureza fizeram a jornalista buscar por informações verídicas, o que resultou na dedicação de um capítulo inteiro de seu livro, “Mãe sem Manual”, à amamentação.
Lisauskas compartilha que um dos maiores desafios vividos durante sua gravidez foi a falta de informação confiável. “Meu filho nasceu em 2010, as redes sociais estavam começando a bombar, então eu sentia muita dificuldade de [encontrar] informação confiável”, diz.
Além disso, ela conta que a maioria dos livros da época abordava somente questões de saúde. Faltavam relatos sobre vivências da maternidade, o que a fazia se sentir deslocada em relação aos próprios sentimentos. “Parecia que só eu estava passando por coisas difíceis”, desabafa.
Em seu livro, descrito como um “antimanual”, ela se propôs, a partir de sua experiência e entrevistas, a “mostrar que nem sempre há certo ou errado quando o assunto é maternidade”.
A seguir, vamos mergulhar mais a fundo nos mitos sobre amamentação.
É verdade que existe leite fraco?
Não, não é verdade. Esse é um mito, que pode interferir na escolha de mães entre seguirem ou não com a amamentação, acreditando que possam, de alguma forma, prejudicar os filhos.
Para refutar essa crença falsa, o artigo científico explica que “o leite produzido no começo da mamada em maior quantidade, fornece proteínas, lactose e outros nutrientes inclusive a água, em volume ideal para o bebê”.
Devido a essa expressiva capacidade nutritiva, é possível seguir com o aleitamento materno como alimentação exclusiva para bebês até os seis meses de vida.
É verdade que amamentar faz cair o peito?
É um grande mito que dar de mamar faça os seios caírem. Afinal, são fatores que vão muito além da amamentação os verdadeiros responsáveis por influenciar neste aspecto. O artigo apresenta o fato de que essa é uma tendência natural ocasionada pelo envelhecimento do ser humano, e não algo exclusivo de mães.
Além disso, ele traz ainda o seguinte ponto: “o que muitas não percebem é que não é o fato de amamentar que causa tal consequência e sim a utilização incorreta de sutiã ou sutiãs frouxos”.
Considerando que nessa fase da vida, após a chegada de um bebê, as mamas podem ficar maiores, a melhor indicação é utilização de sutiã com reforço, segundo as pesquisadoras.
As mães têm pouco leite?
Essa crença de ter “pouco leite” pode levar mulheres a interromperem o aleitamento ou duvidarem de sua capacidade de alimentar o bebê. Diante desse cenário, as pesquisadoras resgatam no artigo científico dados da Unifec para mostrar que muitos outros fatores podem influenciar essa percepção ou mesmo serem a real causa. Veja alguns deles:
- dar outros líquidos que influenciam o apetite do bebê, como água ou chá;
- dar mamadeiras ou chupetas, que podem confundir ou mesmo dificultar a sucção dos seios;
- poucas mamadas deixam os seios cheios e diminuem a produção do leite;
- no outro extremo, mamadas excessivas podem dar a falsa sensação de falta de leite;
- falta de líquidos e alimentação correta das mães.
Por isso, antes de julgar que tem pouco leite, é importante investigar as causas e contar com ajuda especializada.